quarta-feira, 6 de fevereiro de 2013

Homenagem de Maria

 Queridos amigos,

Compartilho com todos essa carta. Emocionante relato de uma mãe inteligente, física e que teve 3 filhos na Chave.
Beijos
Beta




Beta,
Soube pela Lia da morte de Lauro e queria te dizer que fiquei com a sensação de que estamos um pouco mais sozinhos. Gostaria de compartilhar um pouco com você a tristeza desse momento.

Lauro modificou minha visão de educação desde os primeiros meses de convivência com o método psico-pedagógico na Chave do Tamanho. Acompanhei o desenvolvimento dos meus filhos com profundo interesse não só de mãe como de professora. Via o modo como eles aprendiam a lidar com os problemas, tranquilos e cheios de auto-confiança, não porque o colégio era fácil mas porque a cada etapa sabiam onde estavam pisando. Resultado do trabalho continuado e quase intransigente de vocês em levar a efeito os estudos de Piaget.

Lauro mostrava que ensinar a pensar é saber ouvir, mais do que saber falar. As respostas que as crianças nos dão dizem se o que falamos tem sentido para elas. Lembro de Lauro,com seu jeito irônico e provocativo, dizendo a nós, aturdidos pais,  que cada coisa tem seu tempo; aos pais  ansiosos dizia calmamente que as crianças precisam contar palitinhos e grãos de feijão antes de somar números no papel. Querendo dizer que não adianta pular etapas, é inútil.

Esse foi o maior ensinamento que Lauro me transmitiu. Foi tão marcante que durante anos tentei usar essas ideias nas aulas de física, o que, por diversas circunstâncias da vida acadêmica, só há pouco tempo pude levar a efeito, como você sabe. No ensino da física, mesmo na universidade, algo muito semelhante à educação das crianças acontece. É inútil “explicar”. A nossa linguagem não foi feita para os conceitos científicos. Hoje levo os alunos para o laboratório antes de tudo. O experimento é a atividade concreta da física, os “grãozinhos de feijão” do aprendizado da física; os alunos constroem o formal depois, com muito mais segurança. Não foi fácil no início, como não deve ter sido fácil no início da Chave do Tamanho, porque não existe um caminho discernível quando enveredamos no método, ele se faz com o tempo.

A triste notícia de que Lauro nos deixou torna-se ainda mais triste quando vemos que ainda existem poucos seguidores para suas ideias - imagino que isso não o incomodava muito, por causa de sua personalidade forte e porque acreditava no que fazia. Perdemos nós. Tenho esperança de que um dia o método psico-pedagógico que ele fundou venha a ser mais conhecido e aceito. Afinal, o vácuo educacional do Brasil não deixa de ser também um espaço aberto para mudanças.

Um grande abraço para você e sua família,
Maria.

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